Evoluir é preciso

Uma família da Idade da Pedra (composta pelo pai, esposa, três filhos e a sogra) é regida sob os temerosos cuidados do patriarca, que …

Uma família da Idade da Pedra (composta pelo pai, esposa, três filhos e a sogra) é regida sob os temerosos cuidados do patriarca, que sabe que a natureza que os cerca é estranha e imprevisível. Pelas suas regras, eles só podem abandonar a caverna quando for absolutamente checado que do lado de fora não há perigo iminente, e apenas durante o dia, já que a noite lhes oferece uma vulnerabilidade que outros animais selvagens não pouparão. A filha mais velha certamente acha tudo isso um excesso de preocupação, e mantém a sua curiosidade viva escalando altas rochas e saindo de casa quando lhe convém. Numa dessas fugas, ela acaba encontrando um outro semelhante (leia-se hominídeo), que está vagando não à procura de um novo lugar para se estabelecer, mas em busca do "amanhã", de um entendimento de sua existência, de descobertas. Ele a alerta sobre as mudanças pelas quais a Terra está passando (terremotos e terras que se separam; a divisão dos continentes), e afinal toda a família decide por segui-lo após um desses cataclismos destruir a caverna em que moram. A partir daí, Os Croods: Uma Aventura das Cavernas (The Croods, Estados Unidos, 2013) mostra seus personagens numa jornada em que medos precisam ser enfrentados, em que a inteligência precisa ser imposta, em que alguns conceitos precisam ser abandonados. Porque o novo filme da DreamWorks, dirigido por Chris Sanders e Kirk De Micco, usa de uma metáfora muito simples e muito significativa como núcleo de toda sua temática: luz e escuridão. A família dos Croods decide acompanhar Guy, o garoto inventivo que carrega (e sabe fazer) o fogo e segue o Sol, mas a resistência de Grug, o patriarca, é um impedimento para o seu avanço. Grug, claro, coloca a segurança de sua família em primeiro, e todos notam esse esforço. Chega um momento, porém, em que isso não é mais suficiente. A filha, Eep, acaba se apaixonando pelo intruso, o que acirra ainda mais a questão com o pai. Nas mãos de Chris Sanders, uma das pessoas mais interessantes do ramo da animação, essa história terá um final de redenção e reconciliação. Mas aqui, diferente do que aconteceu nos seus anteriores Lilo e Stitch e Como Treinar o Seu Dragão, o teor emocional é sobrecarregado, e acaba sendo preterido pela impressionante qualidade visual do filme. Como geralmente ocorre quando pessoas inspiradas se encarregam de projetos animados em computador, Os Croods vem para estabelecer novos padrões técnicos. A câmera virtual corre com os personagens e flui pelos cenários com uma precisão deslumbrante (a sequência da primeira caça em família é antológica); as texturas são das mais palpáveis desde Rango (o que deixa ainda mais curiosa a fauna e flora propositadamente absurda); o cuidado com detalhes sempre surpreende (dos vasos sanguíneos visíveis no pescoço de Grug às expressões corporais e faciais cada vez mais aprimoradas). E tem a terceira dimensão, que adiciona efeito sem trazer prejuízo ao brilho e às cores (estes sob a supervisão de Roger Deakins, novamente servindo como consultor visual, assim como em Dragão e Rango). Se o drama dos personagens é resolvido com uma pieguice que talvez mais afaste do que aproxime, compensa-se com criatividade e apuro estético que esbanjam em arrebatamento.

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