'Círculo de Fogo' | Duelo de gigantes

Em ' Círculo de Fogo ' ('Pacific Rim', Estados Unidos, 2013), o mais recente filme do diretor mexicano Guillermo del To…
Em 'Círculo de Fogo' ('Pacific Rim', Estados Unidos, 2013), o mais recente filme do diretor mexicano Guillermo del Toro, alienígenas gigantescos conseguiram acessar a Terra a partir de um portal interplanetário no fundo do Pacífico, e dali emergem para destruir tudo que veem pela frente. Para enfrentar essa ameaça, que se mostrou resistente às investidas bélicas disponíveis, as nações se viram obrigadas a criar robôs gigantes que fariam oposição em força e tamanho aos aliens.

Controladas por dois humanos em "sincronia neurológica", as máquinas mostraram relativo sucesso (se é que multiplicar os estragos pode ser considerado algum sucesso), até que sua utilidade é colocada em xeque em favor de uma nova estratégia de contenção. E é no tempo até que o programa seja encerrado de vez que a história do filme transcorre.

Como é típico em trabalhos do diretor, a concepção visual de 'Círculo de Fogo' é impressionante, aqui tanto em originalidade quanto em escala. Porém, se por um lado o desenho e a animação das criaturas colossais têm seus méritos, o mesmo cuidado não é observado em aspectos humanos e de dramatização, e isso torna o filme não apenas supérfluo, como às vezes ofensivo. Tal deficiência é reflexo tanto das falas pobres e da artificialidade dos conflitos que se quer estabelecer entre os personagens, quanto do trabalho de direção de atores — ficando os intérpretes reféns de papéis mal desenvolvidos e relegados a mero detalhe em meio às explosões de metal e vísceras.

Qualquer sensação de urgência e medo que algo como uma invasão alienígena poderia representar é igualmente perdida pela previsibilidade da abordagem de del Toro, que filma os robôs destruírem as cidades com uma despreocupação desconcertante enquanto tentam derrubar o inimigo — e assim não é de se espantar que o único sangue que se vê é o que escorre do nariz dos pilotos quando de alguma falha na conexão com as máquinas. Enfim, é também dispersivo e clichê o alívio cômico na figura de dois cientistas instáveis que ocupam tempo demais com subtramas despropositadas.

Não que estofo dramático seja requisito para que uma produção dada ao absurdo se firme como bom entretenimento; o filme até consegue se sustentar em sua tolice por algum tempo, mas a partir daí a condescendência exigida é demais a ser compensada apenas com batalhas no escuro (porque, apesar de convincentes, é razoável supor que os efeitos visuais pareçam temer a exposição do dia, já que a maioria das cenas que envolvem maior participação de computação gráfica se passa à noite). 

Se é para ser um total descompromisso, os Power Rangers já enfrentam esses monstros há anos com seus megazords, e dá para arriscar que com um envolvimento humano maior. Del Toro poderia ficar apenas no desenho das criaturas mesmo.

A+
A