Ao final de 'A Teoria de Tudo', pelo menos um questionamento é inevitável: por que a cinebiografia sobre um dos teóricos mais brilhantes da história contemporânea passa tão superficialmente por sua carreira, justamente o motivo pelo qual ele é celebrado? Se por um lado a decisão de apresentar ao público o lado pessoal - e não menos fascinante - do físico britânico Stephen Hawking se mostra uma decisão eficiente por todas as peculiaridades que o cercam, por outro, é flagrante o quanto o longa desperdiça seu enorme potencial por se desenrolar de maneira tão óbvia e pouco imaginativa.
Não leva muito tempo no filme para que Hawking seja diagnosticado com uma doença degenerativa chamada esclerose lateral amiotrófica, à época mais conhecida como a "doença de Lou Gehrig". Antes disso, porém, somos apresentados a um jovem espirituoso, cheio de vida, que surge em cena pedalando uma bicicleta despreocupadamente, vai a festas, flerta e namora - e é comovente perceber que, logo logo, seu corpo estará preso para sempre a uma cadeira de rodas. A partir desse momento, com o protagonista já bastante debilitado fisicamente, a história ganha forma e propósito. O interesse, aqui, é revelar como se comportava o Stephen Hawking marido, amigo, filho e pai de família, e - esporadicamente - o acadêmico.
Inicialmente, há um certo atropelo de acontecimentos que torna "A Teoria de Tudo" uma experiência um pouco incômoda. Com a história já devidamente estabilizada na relação entre Hawking e sua primeira esposa, Jane, o diretor James Marsh explora as nuances do casal com sábia economia de pieguice, não deixando que o filme escorregue - salvo alguns momentos - no sempre sedutor melodrama - o drama de ambos é real e isso basta. Economia, aliás, é uma palavra que se aplica a boa parte da trama, que, embora seja inegavelmente bonita e inspiradora, também é tímida, comedida, na maneira com que aborda os principais fatos da vida do personagem e dos que o rodeiam, proporcionando uma experiência quase sempre aquém do esperado.
Quem não economiza, muito pelo contrário, é Eddie Redmayne. Sua interpretação é lindamente assustadora, tamanha a entrega que dá para compor Hawking. Além de lembrar fisicamente o protagonista, o ator faz um trabalho de expressão minucioso nas cenas em que a doença que o acomete se encontra em estágio avançado. Com olhares imprecisos e pequenos gestos trôpegos, Redmayne diz muito sobre quem é aquele homem, que desafiou a ciência enquanto ser humano e a física enquanto estudioso. Felicity Jones, por sua vez, é igualmente bem-sucedida ao mostrar como a enfermidade do marido também a fez padecer progressivamente: se em um primeiro momento é vibrante e totalmente dedicada a Hawking, com o passar do tempo ela dá claros sinais de que é cada vez mais difícil cuidar sozinha do marido e dos três filhos.
Também chamam a atenção positivamente a fotografia e a trilha sonora de "A Teoria de Tudo". Visualmente, muitos de seus quadros são iluminados de maneira diferente, quase inusitada, e geralmente dizem respeito ao estado de espírito dos personagens em cena. São detalhes que dão forma ao filme, mas que não chegam a compensar o fato de que, em termos de conteúdo, lhe falta um diferencial, uma faísca capaz de provocar não necessariamente um big bang, mas uma reação mais interessante à história de um homem cuja trajetória é extremamente interessante.