"Os antigos não temiam o nosso despertar.
Pelo contrário, ansiavam por esse evento."
Pelo contrário, ansiavam por esse evento."
Aos 17 anos, Liliana Young tem uma vida aparentemente invejável. Ela mora em um luxuoso hotel de Nova York com os pais ricos e bem-sucedidos, só usa roupas de grife, recebe uma generosa mesada e tem liberdade para explorar a cidade. Mas, para isso, ela precisa seguir algumas regras. só tirar altas notas no colégio, apresentar-se adequadamente nas festas com os pais e fazer amizade apenas com quem eles aprovarem.
Um dia, na seção egípcia do Metropolitan Museum of Art, Lily está pensando numa maneira de convencer os pais a deixá-la escolher a própria carreira quando uma figura espantosa cruza o seu caminho: uma múmia - na verdade, um príncipe egípcio com poderes divinos que acaba de despertar de um sono de mil anos. A partir daí, a vida solitária e super-regrada de Lily sofre uma reviravolta. Uma força irresistível a leva a seguir o príncipe Amon até o Vale dos Reis, no Egito, em busca de seus outros dois irmãos adormecidos, numa luta contra o tempo para realizar a cerimônia que será a última esperança para salvar a humanidade de forças malignas e perigosas.
"Encarei aqueles olhos e senti um fascínio inexplicável. O Barulho de Nova York desapareceu. O mundo além de nós dois deixou de existir. Por um instante, imaginei-me afundando nos lagos profundos dos seus olhos e me perdendo para sempre."
Colleen Houck, mundialmente conhecida por assinar a famosa série Tigre, composta atualmente por quatro volumes (há planos para um quinto) e um extra e que já vendeu um pouco mais de 500 mil exemplares só no Brasil, publicou em agosto, nos Estados Unidos, o primeiro livro de sua nova série, agora povoada por seres da mitologia egípcia. No Brasil, visto o sucesso de vendas da autora norte-americana por aqui, a Editora Arqueiro não pensou duas vezes e lançou O Despertar do Príncipe quase que simultaneamente ao lançamento original. Obviamente, os fãs comemoraram e, como era de se esperar, levaram o livro às listas de livros mais vendidos do país. A respeito da outra série da Houck, conheço somente até o segundo volume, O Resgate do Tigre. Entretanto, mesmo com esse contato pela metade, pude perceber que suas pesquisas são extensas e expostas de forma bem detalhada. Não foi diferente com Reawakened (título original).
Em O Despertar do Príncipe, o leitor vai encontrar uma narrativa bem viciante, repleta de sarcasmo da protagonista e de passagens de tirar o fôlego. Romance? Uma faísca, apenas indícios. Nada concreto ainda, mas introduzido de forma bem agradável. Acredito que seja algo que a autora vá desenvolver melhor nos próximos volumes. O livro funcionou bem assim, confesso, e espero que um futuro envolvimento entre personagens não roube o lugar da história propriamente dita. Talvez esse tenha sido o verdadeiro ápice do título, o fato de a mitologia ter sido a prioridade desde o início. E, caramba, que mitologia! É mágica, é bonita. Honestamente, fiquei imaginando como seriam todas aquelas cenas, todos aqueles cenários, todos aqueles seres incríveis reunidos em um bom filme, com excelentes efeitos especiais. Sem dúvidas, seria um espetáculo visual.
"Grandes besouros coloridos subiam pelos meus braços e, por mais que os espantasse, não paravam de aparecer. Afundei em um rio lamacento cheio de crocodilos que tentavam me morder. Então, quando pensei que não conseguiria mais suportar os pesadelos, fui arrastada para um lugar escuro onde um mal invisível tentava levar embora algo precioso e perfeito."
Contudo, a forma como a mitologia foi inserida na história em certos pontos me incomodou, e esse é um problema que eu também tive em outros livros da autora. Não é como se estivéssemos lendo Rick Riordan, onde a mitologia lá acaba se fundindo perfeitamente com o mundo criado pelo autor. Ele faz parecer tão fácil. Aqui, a impressão que eu tive em algumas passagens foi a de que Colleen simplesmente abrira uma enciclopédia aleatória e transcreveu exatamente o que encontrou lá. Ela faz parecer tão didático, tão pedagógico. Felizmente, há o outro lado. Cenas tão extasiantes, cinematográficas...
De maneira geral, Colleen Houck estreou bem com sua série Deuses do Egito. A química entre os personagens funciona e é palpável, além de um texto bem limpo e sem maiores problemas. Tem algumas semelhanças com A Maldição do Tigre? É claro, mas estou torcendo para que a autora dê à essa série uma identidade própria, um rumo diferente. O gancho final foi interessante e deixa o leitor à espera pelo lançamento da sequência, intitulada Recreated. Se você gosta de fantasia, vá em frente. Recomendo, porém, não ir com muita sede ao pote, principalmente se você já tentou ler Houck e não deu muito certo. Se você já é fã de carteirinha da autora, então é quase certo de que encontrou sua nova série favorita.