Se a princípio pode parecer curioso que um filme se baseie num jogo de tabuleiro, não é preciso pensar muito para perceber que, na falta de ideias originais, quase tudo já serviu de mote para uma história para o Cinema — e franquias como Piratas do Caribe, inspirada por uma atração de um dos parques da Disney, e Transformers, baseada numa linha de brinquedos da Hasbro, são exemplos disso. Pois Battleship: A Batalha dos Mares (Battleship, Estados Unidos, 2012) só sugere sua origem no jogo Batalha Naval numa pequena e embaraçosa sequência; o resto das suas pouco mais de duas horas são preenchidas com muitos efeitos especiais e nenhuma linha de diálogo inteligente. Alex Hooper (Taylor Kitsch, de John Carter) é um sujeito irresponsável que é praticamente obrigado pelo irmão a entrar na Marinha, como que para o pôr na linha; depois de um tempo, já numa alta patente, ele e sua divisão estão realizando manobras em alto mar quando naves alienígenas gigantescas caem na água e começam a atacar os navios, criando um campo de isolamento que impede os militares de comunicação com o exterior ao passo que tentam estabelecer contato com seu planeta-natal. Logicamente, Alex e sua trupe de estereótipos (que inclui Rihanna no primeiro papel nas telas) tentarão provar algum valor, e, num filme assim, é óbvio que sucedem. Sem medo do ridículo, Battleship abraça o cafona e o amador na sua totalidade, o que pode comprometer o quão divertido se pode achar dele — se é que isso é possível. Para o mal (o filme é ruim) e para o bem (mal conseguiu pagar os custos de produção, o que põe em risco as chances de futuras continuações), eis uma produção que justifica as suspeitas que se pode ter dela.
Piratas Pirados! (The Pirates! Band of Misfits, Inglaterra/Estados Unidos, 2012) é a mais recente produção do estúdio inglês Aardman Animations, dos excelentes A Fuga das Galinhas e Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais, este vencedor do Oscar de melhor animação em 2006. Notadamente conhecido pelo uso de animação em stop motion com bonequinhos de massa de modelar, o estúdio carrega um histórico de preciosismo técnico e criativo com o qual é difícil não se deslumbrar. Mas aqui, infelizmente, a história é facilmente preterida pela realização visual. Capitão Pirata quer finalmente ganhar o concurso de Pirata do Ano, mas, sem os dotes ou riquezas de seus adversários, é novamente um perdedor em potencial. Empenha-se, então, a sucessivos saques a outros navios, todos frustrados. Numa dessas tentativas, entretanto, acaba chegando ao HMS Beagle, embarcação do naturalista Charles Darwin. E é ele que vê que o papagaio do capitão, na verdade, não é um papagaio, mas uma rara e antiga espécie de ave. A promessa de reconhecimento é suficiente para que Pirata e sua fiel tripulação decidam expor o pássaro à comunidade científica, mas esse não é exatamente o tipo de recompensa que eles esperavam. No que se desenvolve, Piratas Pirados! não é mais que um conto sobre não abrir mão dos amigos em busca da aceitação alheia, moral que não é pouco digna. Falta-lhe, porém, algum vigor, que tampouco se observa no ritmo — e tudo parece não muito interessante. Os cenários em miniatura, a iluminação, os bonecos e a técnica de animação são impressionantes, e algumas brincadeiras e referências são particularmente divertidas, mas, no que comparações são inevitáveis, o filme fica devendo tanto a sensibilidade de A Fuga das Galinhas quanto o arrojo inventivo de A Batalha dos Vegetais.