(Todos os links a seguir levam a fotos da cerimônia.)
A alfinetada de Seth MacFarlane à Academia pela ausência de Ben Affleck em Melhor Direção foi uma de suas melhores piadas da noite (a introdução de Meryl Streep, outra). Não foram muitas as inspiradas, é verdade. Sua condução foi menos ácida do que o esperado, às vezes um pouco desejaitada; mas o comediante soube marcar presença, não desaparecendo da vista como outros fizeram em cerimônias passadas. Das homenagens programadas, não se pode dizer que foram marcantes: os cinquenta anos de James Bond no Cinema foram celebrados com uma boa montagem de cenas dos filmes da franquia e com Shirley Bassey interpretando "Goldfinger", mas nada memorável (alguns esperavam pela presença dos quatro intérpretes de 007 no palco, o que não aconteceu); já os musicais da última década foram lembrados com reprises de números de Chicago e Dreamgils, enquanto o elenco de Os Miseráveis aproveitou a oportunidade para introduzir sua canção indicada, "Suddenly", num medley com outros momentos musicais do filme — em apresentações desconexas.
Como se esperava do cenário mais provável, foi uma premiação pulverizada entre vários filmes. As certezas se confirmaram, e algumas indefinições trouxeram surpresas. Meryl Streep apresentou sem suspense o Oscar de Melhor Ator a Daniel Day-Lewis por Lincoln (as câmeras nem a mostraram abrindo o envelope com o nome do vencedor), resultando numa das imagens mais bonitas da noite. Com o prêmio, o ator se torna o maior vencedor nessa categoria, somando três estatuetas, e marca também a primeira vez que um intérprete dirigido por Steven Spielberg ganha a distinção da Academia. Já Anne Hathaway, outra barbada, fez mostrar sua comoção com seu Oscar de Atriz Coadjuvante por Os Miseráveis. Melhor Atriz foi para Jennifer Lawrence por O Lado Bom da Vida (única vitória dentre as oito indicações do filme), superando a aniversariante e veterana Emmanuelle Riva, de Amor (o qual venceu apenas Filme em Língua Estrangeira, em que era franco favorito). Django Livre teve Christoph Waltz levando como Ator Coadjuvante quatro anos após sua vitória na mesma categoria por Bastardos Inglórios, e Quentin Tarantino vencendo pelo Roteiro Original. As Aventuras de Pi levou seus esperados prêmios em Fotografia, para o mexicano Claudio Miranda (o que representou a décima derrota do notável Roger Deakins, que concorria por 007: Operação Skyfall), Trilha Original, para o talentosíssimo Mychael Danna, e Efeitos Visuais, para a equipe da Rhythm and Hues, que ironicamente há algumas semanas declarou falência. E mais: Pi levou Melhor Direção, para o taiwanês Ang Lee, que já soma o segundo Oscar na categoria sem nenhum dos filmes vencer também na categoria principal (antes por O Segredo de Brokeback Mountain, em 2006, numa das mais infames injustiças da história da Academia). Pois este ano é de Argo, que já havia vencido todos os prêmios importantes da temporada. Levou, além de Melhor Filme (para Affleck, George Clooney e Grant Helsov, produtores, anunciados por Michelle Obama direto da Casa Branca), Melhor Montagem (para William Goldenberg, que também concorria por A Hora Mais Escura) e Melhor Roteiro Adaptado (para Chris Terrio, num belo discurso em que agradeceu à inspiração inteligente e criativa de Tony Mendez, o agente que organizou e pôs em prática os verdadeiros eventos retratados no filme).
Surpresa na categoria de Edição de Som, onde houve um empate (apenas o sexto na história da premiação), tendo como vencedores A Hora Mais Escura (no único prêmio que recebeu) e 007: Operação Skyfall, que levou também Canção Original. (Nesta categoria, aliás, a decisão torta da Academia de apresentar apenas três das concorrentes — a outra foi "Everybody Needs a Best Friend", de Ted, interpretada por Norah Jones — é algo que precisa ser mudado para as próximas cerimônias.) Anna Karenina ficou com Figurino, mas Direção de Arte, onde também detinha o favoritismo, acabou indo para Lincoln (que fechou então, de suas doze indicações, apenas duas vitórias). Os Miseráveis levou Mixagem de Som e Maquiagem e Penteado, contando três vitórias de oito possíveis. Filme em Animação foi para Valente, mostrando que o prestígio da Pixar nunca pode ser subestimado. A Disney, porém, teve seu revolucionário Paperman premiado na categoria de curta-metragem. Documentário foi para Searching for Sugar Man em longa-metragem, e para Inocente em curta (cujos diretores fizeram um emocionante discurso em favor das Artes). Finalizando, Curfew ficou com Melhor Live-Action em Curta-Metragem.
Como costume, o in memoriam nos fez lamentar as recentes perdas para a Sétima Arte, e teve Barbra Streisand interpretando a inesquecível canção-tema de Nosso Amor de Ontem, em homenagem ao compositor e amigo Marvin Hamlisch. A festa terminou com MacFarlane cantando um divertido hino ao perdedores, enquanto o público deixava o Teatro Dolby. No fim, um show agradável, pouco cansativo e que se beneficiou de algumas vitórias inusitadas de uma corrida com ares de ineditismo, embora não o fosse.
Agora só ano que vem.
Aqui, a lista dos vencedores. Para mais considerações sobre os resultados da premiação, confira o ótimo texto do jornalista Chico Fireman em seu blog. Para uma divertida recapitulação da cerimônia, este texto no IMDb (em inglês).