Brandon Sullivan, protagonista de Shame (Inglaterra, 2011; inexplicavelmente sem título traduzido no Brasil), é um homem viciado em sexo: com frequência patológica o rapaz está em busca de alguém (ou algo) que lhe excite sexualmente. Talvez não haja mais prazer no ato, mas ele também faz questão de não permitir qualquer envolvimento emocional com seus pares. Tem um bom emprego e mora num confortável apartamento em Nova Iorque, e, quando sua irmã Sissy vem para passar um tempo com ele, a difícil relação entre os dois começa a abalar a sua rotina. Sissy não nega sua dependência e espera que o irmão a acolha (não só no sentido físico) — mas isso é exatamente o que Brandon teme e repele. Quando, numa cena belíssima, ela canta num restaurante dando a uma música de expectativa e desejo todo um sentimento de dor e desapontamento, vislumbra-se o quão trágico o passado de ambos pode ter sido. Aos papeis, Michael Fassbender e Carey Mulligan imprimem enorme densidade, e a comoção que surge de seus personagens é palpável. O vazio de emoção e perspectiva que a obsessão traz, e o desespero destrutivo inerente a indivíduos assim frágeis e machucados, é por onde o roteiro de Shame consegue expor suas melhores virtudes. A direção do inglês Steve McQueen, que já havia dirigido (e revelado) Fassbender em Fome, de 2008, permite a fluidez e a naturalidade da encenação em vários e longos planos-sequência que destacam ainda mais as excelentes atuações. Os enquadramentos estudados são iluminados por uma fotografia ora melancólica, ora desoladora, enquanto a trilha instrumental, minuciosamente encaixada em alguns poucos momentos, reforça sobremaneira sequências importantes do filme — um preciosismo técnico sempre em favor da intensidade dramática da história. Uma força que, se não arrebata, diz muito sobre a incompletude daquelas vidas.
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Brandon Sullivan, protagonista de Shame (Inglaterra, 2011; inexplicavelmente sem título traduzido no Brasil), é um homem viciado em …