'Elysium' | Onde os pobres não têm vez

Em 2009, o diretor sul-africano Neill Blomkamp estreou na direção de longa-metragens com o impactante  Distrito 9 , em que a segregação…

Em 2009, o diretor sul-africano Neill Blomkamp estreou na direção de longa-metragens com o impactante Distrito 9, em que a segregação a que os aliens que caíram no centro de Joanesburgo eram submetidos funcionava como alegoria para o racismo e, mais amplamente, como reflexo da crueldade que se vê permitida quando um grupo de indivíduos possui poder sobre outro. A visão violenta e nada compassível de Blomkamp, sua originalidade e seu domínio técnico-narrativo foram celebrados, seu filme conseguiu quatro indicações ao Oscar, incluindo uma merecida inclusão em Melhor Filme, e sobraram expectativas para seus próximos projetos.

Elysium (Estados Unidos, 2013), seu segundo e mais recente trabalho, porém, acaba por frustrar muitas dessas expectativas. Existe uma continuação temática, embalada em uma nova ideia (também concebida pelo diretor), que se impõe em tom de denúncia e convite à reflexão, mas faltou um texto melhor polido que potencializasse esses efeitos. O orçamento quase quatro vezes maior que o de Distrito 9 se mostra aplicado na ambição visual que contempla um futuro em que a Terra está devastada de recursos e abriga apenas os miseráveis e os empregados, enquanto os mais ricos moram em Elysium, uma estação espacial que orbita o planeta e assegura um impecável padrão de vida a seus cidadãos.

Nesse cenário, Matt Damon interpreta Max, um sujeito que abandonou a vida de ladrão de carros e que agora trabalha numa das empresas que produz tecnologia para Elysium. Num infortúnio, ele acaba se expondo a radiação e é informado ter apenas quatro dias de vida. O sistema é brutal: Max recebe um remédio que o ajudará a ter forças para trabalhar até seu último suspiro. Não que ele aceite essa situação; seu objetivo agora é conseguir chegar à estação espacial e ser curado num dos equipamentos que só lá existem e que são capazes de identificar e tratar qualquer doença conhecida.

Até metade da projeção, Blomkamp já apresentou seus personagens e suas tramas com certa eficiência, permitindo que o expectador absorvesse suas mensagens e estivesse envolvido com os rumos da história. Quando, a partir de então, o filme começa a ensejar seu clímax, os problemas vão se expandindo e acumulando. Desde os vilões unidimensionais até uma fábula tolíssima que envolve um hipopótamo, a montagem indecifrável das cenas de ação e a transigência de certas soluções — parte por parte a narrativa vai sendo enfraquecida, culminando num final quase que absurdo.

Pode-se pensar que, pelo alto investimento, alguns sacrifícios criativos precisaram ser feitos com vista no retorno nas bilheterias (na visão deturpada, anti-inovação dos grandes estúdios), mas essa hipótese não é capaz de absolver toda a espiral decrescente que é Elysium. Nem de amenizar a sensação de que se poderia sair do cinema tão impressionado como há quatro anos, quando um filme de custo parco produzido na África do Sul pegou todo mundo de surpresa.


A+
A