Em Rush: No Limite da Emoção (Rush, Estados Unidos/Alemanha/Reino Unido, 2013), Chris Hemsworth e Daniel Brühl interpretam os pilotos James Hunt e Niki Lauda, que na década de 70 foram responsáveis por uma das mais célebres rixas da Fórmula 1. Fanfarrão e ousado, o inglês Hunt via a corrida pelo lado do prazer; o esporte (e o que a fama poderia trazer) era o que lhe atraía. O austríaco Lauda, mais diligente e incrivelmente criterioso, encarava o automobilismo como o que, afinal, ele sabia fazer de melhor e de onde era possível tirar seu sustento. O atrito que dali surgia se refletia tanto nas pistas, em que disputavam ponto a ponto, quanto num nível mais íntimo, definidor dos próprios propósitos de por que correr, por que querer vencer.
A direção é de Ron Howard, cuja experiência vai desde comédias fantásticas como Splash: Uma Sereia em Minha Vida à tensão das viagens espaciais com Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo; de adaptações de best-sellers com O Código da Vinci e Anjos e Demônios a biografias e recortes históricos com Uma Mente Brilhante e Frost/Nixon. Em Rush, exibe um de seus trabalhos mais inspirados: a câmera é intensa, intrusiva e reveladora, seja para acompanhar de perto as manobras em alta velocidade, seja para fazer as vezes de chave de roda no pit stop (por exemplo) — ou, numa das melhores sequências do filme, de mostrar as dificuldades para se vestir um capacete com a face debilitada. Visualmente, o diretor também se aproveita da fotografia e da montagem excelentes para criar momentos especialmente notáveis, como ao sugerir as condições perigosas de uma pista com vislumbres de poças de água, sujeira e uma aranha, ou ao prenunciar, na talvez mais genial das cenas, um fatídico acidente ao sobrepor a imagem de um personagem com o reflexo de uma chama.
Mas que seja justo notar não só esses elementos, mas também a excepcional música de Hans Zimmer, que sublinha tanto as cenas mais empolgantes como os momentos dramáticos com igual força, e se integra aos efeitos sonoros sem que um outro se sobreponha e prejudique a sonoplastia. Porém, é mesmo na relação entre os protagonistas que a história mantém a sua potência. A rivalidade dos corredores é propulsora de uma busca por objetivo e controle, a adversidade é motivo para superação. Absolutamente precisos em suas atuações em papéis tão distintos, Hemsworth e Brühl garantem o envolvimento genuíno num conto em que a disputa determina as tenções, acha sentidos, e atesta que isso é algo por que se agradecer. Entre tantas qualidades superlativas, os eventuais excessos do texto passam quase justificados; de um filme que trabalha tão bem as emoções, fica a vontade de que outros inimigos saiam igualmente bem servidos de suas desavenças — e o público, de mais obras assim vibrantes.