Em 2010, o Take That reuniu sua formação original após 15 anos para o lançamento de 'Progress'. O disco, aclamado por público e crítica, sinalizava um novo momento na carreira dos cinco rapazes de Manchester que estouraram no início da década de 90 sob a alcunha de boyband. No entanto, após a turnê 'Progress Live', o grupo optou por mais uma pausa, que deve durar, segundo um dos membros, até o ano que vem. Enquanto isso, parte de seus integrantes aproveita o tempo para dar um gás em suas carreiras-solo: em junho, Mark Owen lançou o simpático 'The Art of Doing Nothing', e agora é a vez da dupla dinâmica do TT, Gary Barlow e Robbie Wiliams, apresentar seus novos álbuns de inéditas.
Embora seja um letrista e músico inegavelmente talentoso, Barlow jamais decolou fora do Take That. Seus discos não costumam vender centenas de milhões de cópias, tampouco ser unanimidade entre os críticos. De fato, parece que falta algo em suas canções. No entanto, em 'Since I Saw You Last' ele traz consigo um trunfo que só o tempo é capaz de conceder: maturidade. Não há um tema específico que norteie as novas composições, tampouco uma unidade de estilo entre elas. É uma grande mosaico, uma mistura de referências, sejam elas atuais - como o folk de arena do Mumford & Sons que dá corpo à excelente 'Let Me Go'; ou mais clássicas, como as baladas romântica que emulam momentos das carreiras de Paul McCartney e Elton John (com quem divide os microfones de 'Face To Face', aliás).
A produção é caprichada, e, no geral, são canções agradáveis de acompanhar. Falta a 'Since I Saw You Last', porém, aquela "faísca", um instante mais ousado. Barlow entrega o básico - com muita competência, diga-se -, mas são raros os momentos realmente empolgantes (a faixa-título sem dúvida é um desses momentos). Talvez seja o conhecido bom-mocismo do cantor o fator responsável pelo excesso de músicas "fofas", talvez tenha sido o medo de arriscar e soar estranho aos ouvidos de seus fãs, algo que o Take That fez com pleno sucesso em 'Progress'.
Já o bad boy do grupo não costuma ter problemas em ousar. E, em 'Swing Both Ways', Robbie Williams já arrisca na própria concepção do álbum, um cuidadoso tributo a swing music e às populares Big Bands norte-americanas das décadas de 40 e 50. Mesclando releituras de canções da era de ouro do swing a composições próprias, o resultado desta nova empreitada é, para dizer o mínimo, vibrante. 'Soda Pop', 'I Wan'na Be Like You' e 'Puttin' On The Ritz' dão o tom, com letras alegres e melodias capazes de fazer um poste dançar. Mas Williams acerta, também, quando injeta um pouco de romantismo nos momentos mais agitados. O dueto com Kelly Clarkson em 'Little Green Apples' é um dos destaques, enquanto a regravação do clássico 'Dream A Little Dream', com participação de Lily Allen, remete imediatamente a casais dançando abraçados nos saudosos bailes em grandes salões.
Tecnicamente, 'Swing Both Ways' é um deleite. Encorpado com um naipe de metais poderoso, o disco não perde fôlego, é enxuto e cumpre a rigor o prometido. Para os mais empolgados, há a versão Deluxe, com três (ótimas) músicas adicionais. A expectativa agora é de que, caso o Take That realmente volte à ativa em 2014, a eficiência de Gary somada a ousadia de Robbie ditem novos rumos à sonoridade da banda. São dois artistas que, combinados ou não, costumam prestar bons serviços à música.