‘A Corte do Ar’, de Stephen Hunt, lançado no Brasil pela Saída de Emergência, é o primeiro de uma série de livros de Steampunk. Para quem ainda não leu nada do gênero, posso resumir que é uma história que acontece no passado, focando o período vitoriano, com todas as características de damas e cavalheiros e a constituição da sociedade, atrelado a um crescimento tecnológico muito grande, que é dominado por máquinas, robôs e aviões a vapor.
Em Chacália, conhecemos Molly Templar, moradora da região de Aço-Médio, uma órfã que morava em um orfanato e é levada por um ‘damson’ (senhora) para um tipo de bordel. Lá presencia um assassinato e começa a ser perseguida pelo Conde Vauxtion, que quer mata-la a todo custo. Assim que consegue fugir, dirige-se ao orfanato ‘Portas do Sol’, mas ao chegar vê que todos os seus amigos foram mortos e decide seguir para Tristesperança, com a ajuda de um dos robôs de Aço Médio até a cidade subterrânea.
Também temos Oliver Brooks, um garoto que mora com seus tios, já que seus pais foram mortos. Porém é acusado pelos oficiais locais de ter assassinado seus familiares e vê como única opção fugir com Harry Stave, um misterioso agente de ‘A Corte do Ar’. Assim, descobre que seu pai e tio eram parceiros desse homem e estavam tentando ajudar a população, já que 'A Corte do Ar' vigia todas as atividades políticas do mundo terrestrre. Só que nessa fuga ele acaba encontrando vários ladrões, foras da lei e espiões.
E assim os dois principais personagens descobrem que seu verdadeiro propósito e percebem que precisam enfrentar uma monarquia falida, que foi destruída há milênios, além dos grandes perigos dessas cidades e cidadãos e salvar o mundo.
Como os capítulos são alternados para cada personagem, posso dizer que as partes do Oliver são mais interessantes que a de Molly, pois a dele desenvolve-se mais rápido. Um dos pontos interessantes dessa narrativa é o autor relatar as diferenças sociais e políticas das cidades e personagens, que muitas vezes refletem os sistemas políticos atuais (mesmo que o livro tenha sido lançado em 2007).
Eu não vou dizer que já gostei da narrativa à primeira vista. O livro, para mim, foi muito complexo para engrenar na história e compreender todo o universo criado pelo autor. Fui começar a entender o enredo pelo Capítulo 4, ou seja, já era um grande número de páginas lidas, sem compreender certos pontos da narrativa que seriam complementadas nos capítulos seguintes. Claro, entendo que isso colabora com o desenvolvimento do enredo, mas para quem nunca leu nada do gênero Steampunk pode ser muito complexo.
Outro ponto foi à dificuldade de criar uma imagem mental dos personagens, cenários e dos robôs. Imagino que algumas ilustrações no início de cada capítulo resolveriam esse problema. Sei que não temos isso na versão original, mas seria um apoio à narrativa. É importante avisar que no fim temos um ‘Glossário de Chacália’. Ou seja, se você ler antes, vai ajudar muito na leitura do livro.
Já falando das questões técnicas, o livro tem uma capa muito bem produzida, que realmente atrai o possível leitor ao ver o livro em uma livraria. Em relação à diagramação, ela está muito bem feita, só achei a fonte um pouco pequena (provavelmente ela foi reduzida em função do número de páginas), principalmente para quem lê a noite. E para alegria da maioria (não faço muito drama com isso), as folhas são amareladas.
Finalizando, 'A Corte do Ar' tem uma leitura complexa e densa, mas vale a pena ler. Só é preciso ter calma. Não é o tipo de livro que você vai ler em uma tarde (até por que, temos 544 páginas). Se achar que não vai conseguir, reveze com outro livro que a leitura pode fluir facilmente.