"Divergente", o filme

Divergente ( Divergent , Estados Unidos, 2014) é a adaptação para o Cinema do livro homônimo da escritora americana Veronica Roth, prim…

Divergente (Divergent, Estados Unidos, 2014) é a adaptação para o Cinema do livro homônimo da escritora americana Veronica Roth, primeiro de uma trilogia de ficção young adult sobre uma Chicago distópica, lançado em 2011. A história acompanha Tris, adolescente que, numa sociedade que divide os adultos em castas ("facções", nos termos da obra) de acordo com os valores a que se mostram mais inclinados, vê-se em perigo por ser uma divergente, ou seja, alguém apto a pertencer a mais de um desses grupos — o que significa ameaça à estabilidade desse sistema pós-tempos-de-guerra. Tris precisa, enfim, lidar com essas descobertas e lutar pelo seu lugar no mundo, encontrando semelhantes e enfrentando a tirania que visa à eliminação do que faz dos humanos, humanos — no centro, portanto, uma história de afirmação de identidade, tema universal e de forte apelo junto a seu público alvo.



Em época em que conteúdo para jovens adultos surge de tudo quanto é lugar com diferentes roupagens e alegorias, é boa notícia que o diretor Neil Burger (de O Ilusionista e Sem Limites) e seus roteiristas Evan Daugherty (de Branca de Neve e o Caçador e do próximo As Tartarugas Ninja) e Vanessa Taylor (de Um Divã para Dois) não deixem que Divergente se torne apenas algo à sombra de Jogos Vorazes, com o qual é comparado. O estúdio é o mesmo da cinessérie Crepúsculo, e dobrou o orçamento do projeto em face do sucesso dos filmes de Katniss Everdeen e cia. A produção é caprichada na construção da Chicago pós-apocalíptica, defensiva e segregada, com sua periferia de prédios ruindo com o tempo, a grande cerca que protege a cidade do que há lá fora, os metrôs velhos e as locações abandonadas; a excelente trilha musical intensifica a ação com sua pegada percussiva, mas também sublinha os momentos dramáticos com melodias delicadas; e o elenco traz ótimos atores em papéis coadjuvantes, especialmente Kate Winslet como a vilã altamente persuasiva e Ashley Judd e Tony Goldwyn como os pais carinhosos e compreensivos.

Mais importante, porém, a trama sabe por onde percorrer neste capítulo introdutório (as continuações já estão confirmadas, vale dizer, sendo que o último filme será dividido em duas partes, como virou moda). A confiança que Tris vai ganhando, fruto de seu amadurecimento ante os dilemas e as escolhas que se lhe aparecem, é comovente ao mesmo tempo em que é estimulante — e a cena em que ela corre para alcançar o trem, logo após sua primeira grande decisão na vida, é linda em vários sentidos. Jovem atriz revelada em Os Descendentes, a talentosa Shailene Woodley dá maiores dimensões à protagonista; eis o trunfo de Divergente: mesmo do apressado terço final, em que o roteiro se rende a resoluções fáceis, atriz e personagem saem incólumes. Mas há mais por vir, e se quer permanecer com ela. O filme não precisa de melhor atestado que esse; que venha Insurgente.



A+
A