Planeta dos Macacos: O Confronto (Dawn of the Planet of the Apes, Estados Unidos, 2014) tem início mostrando o caos que tomou a Terra nos dez anos desde que o vírus apresentado em Planeta dos Macacos: A Origem (a incursão que reabriu a série em 2011) se espalhou entre a população, dizimando milhões de pessoas e relegando os imunes à necessidade básica de sobrevivência em um planeta abalado de recursos. Do outro lado dos efeitos do vírus estão os símios, que tiveram sua inteligência e habilidades aprimoradas e agora vivem ordenadamente sob a liderança de César. Quando humanos e macacos se reencontram, não demora a aflorar, em meio à tentativa da convivência pacífica, e de ambos os lados, inseguranças e ressentimentos que conduzirão a desfechos trágicos.
Sai Rupert Wyatt, que fez do anterior um filme impecavelmente enxuto e sólido, entra Matt Reeves, dos ótimos Cloverfield: Monstro e Deixe-Me Entrar. Troca-se o diretor, mantém-se a excelência: assim como no melhor de seus trabalhos prévios, Reeves acredita na força da imagem, no que ela transmite sem que muito mais seja necessário — em momentos como o nascimento do filho de César, ou a chegada dos macacos aos portões do refúgio humano, ou o plano final. Com seus roteiristas, não poupa de uma trama complexa os vários dilemas que os personagens enfrentam, e para humanos e macacos a questão final deverá ser a mesma: confiar ou não na outra espécie e correr-se o risco de ser subjugado.
Num contexto em que a vantagem se encontra com os símios, a diplomacia de César (que já conheceu a benevolência das pessoas, não só seu lado dominador e destrutivo) abre espaço para uma relação respeitosa entre as partes — mas o clima é instável, no que as figuras dissidentes estão sempre a um passo de acender o estopim. A tensão é constante, e um conjunto de elementos colabora na construção desse ambiente pós-apocalíptico à beira da guerra: da fotografia acinzentada, pesada, à direção de arte de escombros tomados por vegetação; da montagem que acompanha várias ações paralelas à música de corais e percussão bem marcados. E em destaque, claro (porque há de se impressionar com eles), os efeitos visuais, que não só dão as camadas à São Francisco decrépita, como, mais importante, possibilitam os macacos mais realistas que a tecnologia pode criar, apoiados nas performances — seus movimentos, suas emoções — de Andy Serkis e companhia.
Quando enfim o confronto se estabelece, parece não haver mais volta, e as duas espécies estarão destinadas a um futuro de conflitos. Ao final, vendo-se traído (pelos companheiros, pelas suas próprias crenças), César admite a semelhança dos símios aos humanos. O poder parece outorgar o direito sobre os outros, qualquer que seja a espécie que o detenha. Planeta dos Macacos: O Confronto, com justiça ao legado da obra de Pierre Boulle, acaba sendo um espelho da realidade — o que, além de grandioso espetáculo como Cinema, torna-o portanto essencial.