Você já ouviu falar no menino Febronio Barriga Gordorritúa e seu pai, Zenon Barriga y Pesado? Não? E em Nhonho e Senhor Barriga? Também não? Pois saiba que, durante mais de 20 anos, estes dois marcantes personagens do seriado Chaves ganharam vida através do talento do ator Edgar Vivar. Nascido na Cidade do México, no dia 28 de dezembro de 1948, ele teve contato com as artes cênicas desde muito cedo, quando fez do teatro sua atividade extracurricular. Ao longo dos anos, contudo, sua vida profissional tomou um rumo diferente: graduou-se em Medicina e chegou a trabalhar em um hospital durante dois anos.
Mas a paixão por interpretar permanecia ali, constante. Enquanto estudava, manteve o teatro paralelamente, além de atuar em peças e comerciais. Seus trabalhos, mesmo que esporádicos, chamaram a atenção do multifuncional Roberto Gómez Bolaños, que o convocou para fazer parte do elenco de seus programas, entre eles, “El Chapulin Colorado” e “El Chavo del Ocho”. A partir daí, Edgar ganhou as telas e, aos poucos, foi ganhando espaço de destaque em ambas as séries, sobretudo em Chaves, onde mantinha dois personagens fixos.
O mais jovem deles, Nhonho, era um garoto bem de vida e razoavelmente mimado (não tanto quanto Quico). Frequentemente importunado pelas outras crianças por ser mais gordinho, ele inevitavelmente despertava uma certa inveja no pobre menino de roupas remendadas, já que sempre vangloriava-se de suas fartas refeições. Apesar disso, Nhonho - que morria de medo quando a Bruxa do 71 “evocava” Satanás - mostrava-se benevolente e emprestava seus brinquedos ao Chaves.
Já seu pai, Senhor Barriga, era o proprietário da vila onde os personagens moravam. Homem sério e trabalhador, ele era vítima de todo o tipo de calamidade que possa cair sobre um ser humano. Além de conviver com a eterna dívida de 14 meses de aluguel do Seu Madruga, e senhorio era recebido com uma pancada desferida por Chaves cada vez que chegava ao local. Para piorar, as crianças o chamavam dos mais variados apelidos - todos com alguma relação com seu peso: Velho Pançudo, Almôndega, Presunto com Pernas, Barril Destampado, Baleia de Óculos e, claro, Disco Voador (entre outros). Mesmo com tantos motivos para ser um sujeito rancoroso e ranzinza, o Senhor Barriga era boa gente e tratava o Chavinho como um filho, em certos momentos.
Em virtude dos 30 anos da estreia de Chaves no Brasil, o All POP Stuff teve a oportunidade de conversar virtualmente com o ilustre intérprete de Nhonho e Senhor Barriga. Apaixonado pelo Brasil, Edgar Vivar falou um pouco sobre sua relação com os fãs e revelou qual seu episódio preferido do seriado. Confira abaixo a barriga com o Senhor Entrevista, digo, digo...
Edgar, você foi um dos atores que mais tempo permaneceu nos programas do Chespirito. Do que você mais sente saudade desses anos?
Eu sinto saudades de tudo, mas principalmente dos meus amigos que já não estão mais entre nós. Foram anos muito especiais, e tenho certeza que falo por todos nós. Tenho saudades da rotina das gravações, dos ensaios, do shows. Nossa vida era uma loucura, gravando os programas e viajando por diversos países com o nosso show, mas era tudo muito divertido!
Como foi sua transição da medicina para a televisão?
Enquanto eu cursava a faculdade de medicina, também tinha que fazer uma atividade extra-curricular. Escolhi o teatro e deu no que deu... quando comecei a trabalhar com Chespirito continuei exercendo a medicina, porém com o todo o sucesso alcançado pelo programa, foi impossível continuar nas duas carreiras. Então, claro, me dediquei somente à carreira de ator que é a minha grande paixão.
Você interpretou diversos personagens memoráveis em Chapolin, além dos icônicos Nhonho e Senhor Barriga. Dentre todos, qual o que você mais gostou de interpretar?
Você tem filhos? Se tiver, entenderá do que estou falando...um pai ou uma mãe não consegue escolher um dos seus filhos como o favorito. A mesma regra se aplica à um ator e seus personagens. Cada personagem nos permite viver algo diferente, experimentar coisas novas, então nos apegamos por igual a todos eles.
O que há no Brasil que o atrai tanto para cá? E a experiência na Copa do Mundo, como foi?
Eu amo o Brasil! É um país belíssimo e o povo brasileiro é encantador, é impossível não se apaixonar pelo Brasil. Poder estar com vocês durante a Copa foi muito divertido. Assistir a partida Brasil x México então, foi inesquecível! Meu coração estava realmente dividido e o empate teve um sabor de vitória para mim, tanto do Brasil, como do México.
Um dos personagens mais queridos pelos brasileiros é o Seu Madruga. Como era Ramón Valdés quando não estava interpretando?
Ramón era exatamente como o “Seu Madruga” e acho que até mais engraçado pessoalmente. Era impossível não morrer de rir, com Ramón por perto. Além de ser um tipo muito engraçado também era uma pessoa maravilhosa. Tinha um coração enorme e era um amigo de verdade. Ele era meu vizinho, então estávamos sempre juntos.
A que você atribui o sucesso tão longevo de Chaves no Brasil?
Churin churin fun flais! Risos! O sucesso da série Chaves não só no Brasil mas em todos os países latinos me surpreende até hoje. Acho que o sucesso não pode ser atribuído somente à um fator, mas sim a diversos fatores que juntos geraram todo esse sucesso. A genialidade indiscutível de Chespirito ao criar e dirigir todas aquelas situações aliada ao imenso talento e empenho de todos os atores que se evidenciavam ainda mais quando atuávamos juntos, mais todo o amor e carinho que colocávamos no nosso trabalho. Esse sucesso todo, ainda que inimaginável na época, foi fruto de muito trabalho, esforço, dedicação e claro uma bênção de Deus que nos permitiu fazer parte disso.
Há algum episódio de Chaves que você considere seu preferido?
Com certeza os episódios que se passam em Acapulco e os episódios de Natal quando toda a vila se muda para a casa do Sr. Barriga!
Toda vez que chegava na vila, o Chaves lhe recebia com uma pancada. Alguma vez você realmente levou uma pancada pra valer durante as gravações?
Sim, diversas vezes! Inclusive quebrei o meu cotovelo nas gravações do filme “El Chanfle 2”. Tivemos que regravar uma cena várias vezes e durante essas repetições acabei caindo de mal-jeito e fraturei meu cotovelo. Ironicamente, a primeira tomada foi a que acabou entrando no filme...
Você fez parte da infância de muitas crianças que hoje são adultas (inclusive eu). Qual é a sensação ter sido (e ainda ser) ídolo de tantas pessoas de diversas idades?
Eu não me vejo como um ídolo e nunca me verei como tal. Mas fazer parte da vida de tanta gente com certeza é uma bênção. As pessoas sempre chegam em mim com um brilho nos olhos e isso me emociona muito. Há 40 anos que sinto esse amor por parte dos fãs da série todos os dias. É uma sensação incrível e pela qual sou eternamente agradecido.