Longe do indie do The Killers, Brandon Flowers é outro sujeito. "Flamingo", seu álbum-solo de estreia, em 2010, já dava sinais disso. Agora, em "The Desired Effect", ele radicalizou. Mostrando uma versatilidade espantosa, o músico transita pelo rico e inconfundível (e trash) pop dos anos 80 com a segurança que se esperaria somente de algum artista que tenha vivido musicalmente a década. Ainda é maio, e este já é um sério candidato a figurar entre os melhores discos de 2015.
E também faria bonito em 1984, 1986, 1987... Tamanha a identificação que este novo trabalho tem com a essência da música oitentista, seja nos vocais, nas letras ou no instrumental. Tudo emula, de alguma maneira, algum momento/protagonista daquele tempo, como Duran Duran, Prince, Queen e outros tantos. Mesmo os exageros de gente como Billy Idol, Modern Talking e Culture Club podem ser facilmente identificados nas - em sua maioria - vibrantes canções, graças aos teclados, batidas e sintetizadores característicos utilizados à exaustão, sem nunca soar datado ou excessivamente respeitoso ao cânone da época - estamos falando de um artista contemporâneo, afinal.
O ecletismo de estilos que marca a música dos anos 80 também se faz presente em "The Desired Effect", que vai do romântico de "Between Me And You" a faixas que provocam uma inegável vontade de sair pulando e dançando, como "Diggin' Up The Heart" - que, aliás, lembra muito o Bruce Springsteen de "Born in the U.S.A." (1984). Não por acaso, é um raro momento em que Flowers flerta com o rock durante o disco. Há, em algumas músicas, algo de onírico à la Bryan Ferry e seu Roxy Music, como na excelente "Can't Deny My Love" (as linhas do baixo de Tony Levin são sensacionais).
A década homenageada pelo frontman do The Killers se materializa, de fato, com a presença do vocalista do Pet Shop Boys, Neil Tennant, em "I Can Change", que também resgata o sample de outro clássico oitentista: "Small Town Boy", do Bronski Beat. Enxuto (são apenas 10 faixas), o disco jamais perde fôlego, e alcança seu clímax na disfarçadamente doce "Lonely Town", repleta de detalhes instrumentais (com direito a autotune e tudo mais) e com o trecho mais emocionante do álbum, quando os vocais de Flowers rasgam-se em amargura: "And I'm wondering/ Baby/ Do you hear the phone when I call?/ Did you feel the thud when I fall?/ Do you hear the crack when I break?"
Com um final levemente melancólico no melhor estilo fim de festa, em "The Way It's Always Been", "The Desired Effect" faz completa justiça ao seu título. Ao que parece, Flowers conseguiu "o efeito desejado" em sua viagem no tempo.
Com um final levemente melancólico no melhor estilo fim de festa, em "The Way It's Always Been", "The Desired Effect" faz completa justiça ao seu título. Ao que parece, Flowers conseguiu "o efeito desejado" em sua viagem no tempo.