'Persépolis', de Marjane Sartrapi

'Persépolis' é uma história em quadrinhos autobiográfica escrita pela iraniana Marjane Satrapi , e lançada no Brasil pelo se…

'Persépolis' é uma história em quadrinhos autobiográfica escrita pela iraniana Marjane Satrapi, e lançada no Brasil pelo selo Quadrinhos na Cia., da Companhia das Letras.

Li a versão completa, mas originalmente a história foi lançada em 4 volumes. Nessa versão não há nenhuma divisão, está tudo junto como se fosse um volume só mesmo. Os traços do desenho são bem simples, o que deixa claro que o foco é a narrativa, e não a arte (apesar dela estar bem feita).

O livro tem uma pequena introdução ilustrada sobre a história do Irã. Fiquei um pouco preocupada, pois não absorvi muita coisa, mas isso não atrapalhou no restante da leitura. A história começa com Marji, como é chamado pela família e os amigos, com 10 anos de idade, no ano de 1980, no Irã. Ela é de uma família de classe média alta, e foi criada com uma boa educação e liberdade.

Após a Revolução Islâmica de 1979, as coisas mudaram no país e começou então uma ditadura. Ela, que estudava em uma escola bilíngue e em uma classe mista, precisou começar a usar o véu e ir para uma sala apenas com meninas. Como os pais de Marji eram modernos e contra a ditadura do governo, logo cedo questões políticas e religiões entraram em pauta na vida dela.

Não sei se tudo ocorreu exatamente como é mostrado no livro, mas me surpreendi pela consciência política de Marji, então com apenas 10 anos. A religião também é bastante comentada no começo do livro, pois nessa idade Marji conversava com Deus e achava que seria a próxima profetisa.

No decorrer da história, a vida pessoal de Marji ganha mais espaço do que a política ou religião (essa segunda na verdade nem é mais comentada). Acompanhamos seu amadurecimento, novas ideias, e também a transformação que ocorre no seu país e no mundo.

Até a metade do livro, a história flui muito bem. Depois disso perdi um pouco de interesse, mas não é algo que se possa reclamar, já que é a vida da Marji, uma história real. Em certos momentos eu desaprovei totalmente algumas atitudes dela, como o dia em que ela se maquiou para encontrar o namorado, mas a polícia estava por perto. Para não ser levada presa, já que era proibido mulher sair maquiada, ela inventou que um homem a assediou, tirando assim o foco dela e passando para outra pessoa. Mas por ser outra cultura e outro modo de vida, não dá para julgar essas reações.

Aliás, é até perturbador ver certas coisas acontecendo, como ela ter sido confundida com uma prostituta apenas porque estava tomando um refrigerante no meio da rua. Isso é algo muito pequeno, comparado a tantas outras coisas que aconteceram na vida da Marji (e de tantas mulheres do Irã) e as perdas que ela teve, mas só por aí dá pra ter uma noção de como era a ditadura islâmica.

Não estou acostumada a ler muitos quadrinhos, ainda mais se tratando de temas densos, como o islamismo, guerras, depressão, entre outros. Então foi uma experiência interessante ler Persépolis, mas não sinto que absorvi tudo que deveria, pois o livro pede uma reflexão bem grande. Pretendo reler em alguns anos, depois de amadurecer e estudar mais alguns temas abordados.

Um fato interessante, é que Persépolis foi o livro do mês de junho do Clube do Livro da Emma Watson no Goodreads. E mais, a própria Emma entrevistou a Marjane, para a Vogue! A entrevista está em inglês, mas vale fazer um esforço pra ler, pois é bem legal.



Termino o texto com uma fala da Marji nessa entrevista, que resume bem o livro (e sua história):

Eu não sou um historiadora e eu não sou uma política. Eu sou uma pessoa que nasceu em um determinado lugar, num determinado período de tempo, e eu posso não ter certeza sobre tudo, mas eu tenho certeza do que eu vivi. Eu sei isso.
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