Charlize Theron estrela 'Atômica', adaptação do quadrinho 'A Cidade Mais Fria' (lançado pela Darkside Books), uma história sobre uma agente secreta do MI6 que fica encarregada de recuperar uma lista de nomes secretos em meio à uma Berlim dividida, prestes à derrubar o icônico Muro da Guerra Fria.
Começarei brevemente constatando os méritos menos questionáveis do filme. Charlize Theron (assim como Idris Elba em 'A Torre Negra'), entrega uma performance repleta de presença e imponência, mesmo que esteja carregando um papel ralo e pouco elaborado.
James McCavoy e (principalmente) Sofia Boutella, adicionam uma bem vinda camada de talento e excentricidade à história e são, inclusive, capazes de reter muito mais a simpatia do público do que a personagem principal.
Cenas de ação, provavelmente o grande atrativo de um filme como este, podem ser classificadas como eficientes. Para o azar de 'Atômica', no entanto, vivemos em uma época onde o cinema chinês e novos filmes como 'John Wick' e 'Deadpool' elevaram a qualidade quando o assunto é entreter o público através de coreografias e perseguições frenéticas.
Com exceção de um plano-sequência específico no meio do filme, o resto das cenas de ação não possuem nada de inovador, e nem de longe trazem a mesma técnica e capacidade vistas no trabalho anterior do diretor, o primeiro 'John Wick'.
Eis que então devemos analisar o uso da estilização no filme. Excelente para o trabalho de marketing, o uso de pichações e fotografia chamativa acaba não indo muito além de sua função promocional. Aqui, prezou-se muito mais o "belo" ao invés da "substância".
Um perfeito exemplo: A agente está sentada em frente à seus interrogadores, ela diz "Podemos começar?". Em seguida, vamos à Berlim onde surge uma pichação escrito "Começo", e só. O recurso não volta a ser utilizado em momento algum do filme, expondo uma clara falta de planejamento.
O quê realmente faz de 'Atômica' um filme fraco é simplesmente uma história fraca. O caso investigado pela agente é chato, batido, não há muito com o quê se empolgar. O peso dessa fraqueza é sentido no primeiro ato do filme onde o espectador pode sentir dificuldades ao se relacionar com a personagem de Charlize Theron. Ao conhecer a personagem de Boutella, a sensibilidade e vulnerabilidade da agente são melhor expostas e podem surtir melhores efeitos.
Apesar das boas atuações, os personagens são extremamente desconexos e mal explorados. O personagem de McCavoy é o maior exemplo, sendo incapaz de criar uma atmosfera de dúvida em volta de suas ações, o quê contribui para que revelações e viradas de roteiro se tornem ineficientes.
Fica a sensação de que o roteiro do filme foi sendo escrito conforme era filmado. Grande trunfo de filmes de espiões, as reviravoltas são essenciais para a experiência, mas para que possuem significado, devem ser preparadas com cuidado e reveladas de maneira adequada. Em 'Atômica', o roteiro constantemente se mostra antí-climático e forçado.
A trama principal poderia ser muito mais interessante se tivesse incorporado os elementos da dualidade de Berlim durante a Guerra Fria, que o filme inclusive tanto se esforça para expor em uma atmosfera de desconfiança pelo ambiente da cidade. Ao invés disso, deixamos toda a relevância histórica em segundo plano.
Apesar do que Hollywood insiste em pensar, efeitos chamativos e elementos da "moda" não são capazes de maquiar um roteiro fraco. A própria trilha sonora, repleta de sucessos dos anos 80, muitas vezes parece deslocada e acaba agindo contra o tom proposto para cenas específicas.
'Atômica' é capaz de entreter à quem se interessar, mas não traz nada de novo, e ainda repete erros antigos do gênero. Agora é rezar para o diretor perceber suas falhas antes que nos tenhamos que nos preocupar com o seu próximo trabalho: 'Deadpool 2'.