'Bom dia, Verônica', de Andrea Killmore

Impressionante como a gente é o que o passado faz da gente. (p. 33) Impactante | im.pac.tan.te Significado: que dá origem ou motiv…
Impressionante como a gente é o que o passado faz da gente. (p. 33)
Impactante | im.pac.tan.te

Significado: que dá origem ou motiva impacto, impressionante.
Sinônimos: impressionante, chocante, marcante, tocante, surpreendente, alucinante, desconcertante, perturbador, assombroso. 

Não saberia descrever este livro de outra maneira. Sempre procuro resenhas e opiniões sobre os livros que despertam meu interesse, mesmo que essas não interfiram muito em minha vontade de ler determinada obra e com 'Bom dia, Verônica' não foi diferente. 

A obra da escritora brasileira, que escreve sob o pseudônimo de Andrea Killmore, divide opiniões entre os leitores por vários motivos e aborda assuntos importantes referentes à violência contra a mulher.
Forcei um sorriso, concordando com ele. Mais do que um soco, o velho merecia umas porradas. Machista de merda. Eu sabia quanto era difícil para qualquer mulher vir até uma delegacia prestar queixa, ter que vencer a vergonha e explicar como foi feita de trouxa por um galã que lhe fez juras de amor via internet. (p. 16)
Em 'Bom dia, Verônica', conhecemos Verônica Torres, 38 anos, casada, mãe de dois filhos e secretária do delegado Wilson Carvana, na Delegacia de Homicídios de São Paulo. Mesmo levando uma vida pacata e uma rotina entediante de burocracia em seu emprego, Verônica não se acomoda nem se intimida quando decide investigar, por conta própria e sem autorização de seu superior, dois casos que chegam até ela: o suicídio de uma mulher que se joga do 11º andar da delegacia após uma reunião frustrada com o delegado, e um telefonema onde uma mulher afirma ser casada com um assassino de mulheres.

Motivada a fazer mais por essas duas mulheres, Verônica dá início as investigações sem medir as consequências de suas atitudes, sem calcular a dimensão que os casos assumiriam e sem ao menos imaginar o quanto sua vida profissional e pessoal seria afetados por eles.
Em pouco mais de quinze minutos, amaldiçoei o Carvana, amaldiçoei o sistema inteiro. Pobre Marta Campos. Como pode tudo ser tão falho? Como pode essa gente encostada, com distintivo, que não quer nada com nada? No Brasil, policial é tratado feito lixo. Faz vista grossa, se corrompe ou morre. Cansei de conhecer policial que escondia o distintivo para não ser assassinato no caminho de casa, PM que colocava a farda para secar atrás da geladeira para ninguém ver, Civil que escondia bem a carteirinha para não levar tiro se fosse pego de vítima em um assalto. Eu não queria ter vergonha de ser quem eu era. (p. 38)
Acompanhar o desenrolar das investigações é angustiante e ao mesmo tempo viciante, pois os dois casos propostos no livro são intrigantes ao passo que um envolve um necrófilo, que aplica golpes em mulheres frágeis e vulneráveis em sites de relacionamentos na internet, e o outro contém a figura de um serial killer, com um ritual curioso. Utilizando uma linguagem bem coloquial, Andrea insere o leitor em duas histórias muito intensas com personagens complexas e humanas.
A verdade e a justiça nunca andaram de braços dados. Principalmente no Brasil. (p. 85)
Verônica não é uma protagonista que causa simpatia ou empolga. É uma pessoa bem hipócrita, com valores deturpados, irresponsável e inconsequente, cometendo erros que são capazes de colocar sua vida e a de outras pessoas em risco. Suas decisões são muitas vezes equivocadas, descuidadas e inconsequentes. Sua ânsia em resolver os casos é tanta que deixa de lado sua vida pessoal, negligenciando marido e filhos, porém mostra-se muito humana, real, corajosa, forte, determinada e com sede de fazer a coisa certa.

Em contraponto, Janete trás à tona a realidade que muitas mulheres vivem diariamente nos mais diversos lugares do mundo, retratando o quadro psicológico de quem sofre violência doméstica: submissa, conformada, sempre acreditando na melhora do agressor, justificando as explosões do parceiro, acreditando serem merecidas as agressões e sempre autodepreciando.
O passado esquece, o presente vive e o futuro, Deus proverá. (p. 92)
É difícil falar de um livro que em tão poucas páginas aborda assuntos tão pesados e perfeitamente plausíveis de acontecer na vida real. É um livro que tem uma carga emocional muito grande e muito forte, tocando diretamente na ferida, dando tapas na cara do leitor a todo o momento. O livro é narrado em primeira pessoa por Verônica e em terceira por Janete, que para mim foi a melhor parte do livro e principal personagem, e de maneira perturbadora aborda a violência física e psicológica contra mulheres e relacionamentos abusivos.
O seu humano é podre e egoísta, prefere o problema que já conhece a enfrentar o desconhecido com honra. (p. 191)
O livro tem um ritmo frenético, tudo acontece muito rápido, não dando tempo de o leitor tomar fôlego. Os capítulos são curtos alternando os pontos de vista de Verônica e Janete, com fonte e espaçamento que dão cadência para a leitura, me prendendo do início ao fim. A edição da Darkside Books é primorosa, em capa dura e com fitinha marca-página. 

Enfim, o livro tem seus pontos fortes e fracos e mesmo que a protagonista não cative e tenha atitudes tortas, o livro aborda temas importantes de serem debatidos e monstra a realidade em cada uma das 250 páginas.
A verdadeira vantagem de ser invisível não é minimizar os danos, mas jogar o jogo da vida com as próprias regras. (p. 251)

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