Publicado originalmente no Diário de Santa Maria.
Vi no Twitter uma postagem que me chamou atenção, principalmente por fazer referência a um nome estranho: Tsundoku. Não é palavrão, é só um substantivo japonês que você pode se identificar ou até lembrar de alguém muito próximo.
Tsundoku faz referência aquelas pessoas que tem costume de comprar mais livros do que podem ler e ainda saem espalhando livros não lidos pela casa em pilhas. Se você é um desses, seja muito bem-vindo ao clube!
Confesso que por um tempo, lá no fim do Ensino Médio, fiquei um pouco receoso com leituras. Tive experiências um pouco devastadoras com minha professora de literatura, que questionava detalhes imperceptíveis (inclusive citando página e linha) em provas sobre livros que não tinha a mínima vontade de ler. Não que fossem livros ruins, mas não sentia o prazer de fazer a leitura deles.
Depois de um tempo retornei as leituras normais e a loucura começou: primeiro estágio, primeiro cartão de crédito, lojas online, feiras do livro. A pilha de livros ia aumentando, enquanto dava conta de pouco mais que dois livros por mês. Só que chega um ponto que a gente perde o controle. O livro chama tua atenção. A capa, a sinopse, aquele autor que você já conhece e tem certeza que o novo vai ser ainda melhor que o anterior. Ás vezes a gente acerta nesse ponto, outras vezes não.
Aí chega o dia que descobre a famigerada Bienal do Livro, seja ela a de São Paulo ou a do Rio, que é imensa, com três pavilhões inacreditáveis, todas as editoras e autores do Brasil (e alguns do mundo) passam por lá. Você vai, faz amizades, carrega esses contatos para o próximo ano. Espera um ano para rever as pessoas. Compra mais livros.
Mas chega o ano que as prioridades são outras. A Bienal chega, você decide não ir. Porém os amigos continuam indo, continuam tirando fotos e aproveitando as promoções de livros. E você em casa, acompanhando pelas redes sociais. Sentindo a falta dupla de estar com aquelas pessoas e também de estar comprando livros.
Depois percebe que, mesmo longe disso tudo, elas estão ali por perto, para conversar com você, discutir sobre a vida ou sobre um livro também. Os livros estão ali na estante te esperando, mas estão esperando mais alguns para fazer companhia. E você percebe que cada vez mais faz parte desse grupo de pessoas que compra livros demais e espalha pela casa.