'Kindred: Laços de Sangue', de Octavia E. Butler

É 1976. Dana  e o marido,  Kevin , se mudam para uma casa para finalmente viverem juntos depois de casados. Dana faz vinte e seis anos e o…

É 1976. Dana e o marido, Kevin, se mudam para uma casa para finalmente viverem juntos depois de casados. Dana faz vinte e seis anos e o casal resolve não sair para comemorar, apenas ficar em casa e arrumar caixas e as pilhas livros espalhados pela casa. Porém, Dana começa a se sentir tonta, de repente, a sua visão fica escura e ela cai. É nesse momento em que ela desaparece, de uma hora para outra, deixando Kevin muito assustado.

Quando Dana abre os olhos, ela percebe que está à beira de um lago, rodeado de árvores altas e uma criança está em apuros, se afogando e ela é a única pessoa que pode salvá-la. Quando Dana consegue resgatar o garotinho, percebe que ele está inconsciente. Assim dá-se conta, repentinamente, de que não está tão sozinha. A mãe da criança grita desesperadamente ao vê-la e Dana logo está na mira de uma espingarda antiga. Então, ela começa a se sentir nauseada mais uma vez e, de súbito, está de volta ao seu apartamento, com as roupas encharcadas e não sabendo absolutamente nada do que acabou de acontecer e muito menos a quem ela salvou. 

Bem como Kevin, que ao ver o estado de Dana, não sabe quais as possibilidades existentes d'ela sumir, aparecer e se mover tão rápido de um canto do cômodo para o outro e ainda estar encharcada. 

Só que antes mesmo de Dana conseguir entender o que realmente aconteceu, ela começa a se sentir do mesmo jeito, tonta e nauseada, e volta para onde foi possivelmente teletransportada. É a pior coisa que poderia acontecer, porque ela volta mais de 100 anos no tempo, para uma Maryland do século XIX, um lugar hostil para negros, um ambiente pré-Guerra Civil. E com um bônus: Dana não faz absoluta ideia das razões para ela estar ali. 


É nesse universo que Octavia E. Butler inovou ao ser a primeira mulher negra a se aventurar pelos caminhos da ficção científica, gênero antes dominado apenas por homens brancos, e constrói uma história estupenda, que vendeu mais de meio milhão de exemplares e ultrapassou o espaço tempo. Kindred nos traz uma protagonista empoderada e corajosa, conquistando cada leitor de um jeito específico.

A personagem principal desse livro sofre demais, tanto psicologicamente quanto fisicamente. Imagine-se como uma mulher negra em pleno século XIX. Certamente, elas sofriam absurdos e não tinham o direito nem mesmo de falar, ser contra tudo o que lhes afligia. Ser forçadamente teletransportado para essa época e, principalmente, sabendo que seu futuro depende de todas as suas ações, não é tarefa fácil. 

Algumas partes antes da história começar, há uma citação da autora dizendo que ela escreveu sobre as relações de poder, porque poder era o que ela menos tinha. E é de imaginar o quanto foi difícil para ela, como mulher negra, ganhar espaço dentro da literatura.

'Kindred: Laços de Sangue' é um livro que problematiza diversos temas, como o racismo e o estupro. É uma obra publicada em 1979 (que chegou há pouco no Brasil pela Editora Morro Branco), que continua tão atual e válida que não basta apenas ler e compartilhar minhas experiências, mas indicar para todos, mesmo aqueles que não leem ficção científica porque o livro em si é muito mais do que um gênero, é quase uma obra de arte. 

'Kindred: Laços de Sangue' - Capa Comum

'Kindred: Laços de Sangue' - Capa Dura
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