'O Mundo Sombrio de Sabrina', nova série da Netflix, vai mudar completamente a sua percepção de Sabrina Spellman. Quero dizer, pelo menos se você, assim como eu, cresceu com a feiticeira adolescente interpretada por Melissa Joan Hart em 1996.
Aqui, os feitiços de Sabrina envolvem encantamentos em latim ao invés de poemas expressivos. Salem, o gato, não é um fantoche atrevido (embora nós desejássemos que ele fosse), e a líder das bruxas não é o Penn Jillette, mas o diabo em pessoa. E que fique claro, desde o inicio da série existe muito mais "satanismo" do que você poderia esperar.
'O Mundo Sombrio de Sabrina' se vendeu como uma série com mais temáticas em comum com 'O Bebe de Rosemary' e 'Exorcista' do que a clássica série 'A Feiticeira'. Apesar da estreia não ter esse nível de horror (o que não significa que futuros episódios não terão), ainda é uma reviravolta realmente assustadora em uma história familiar. Como se fosse um espelho funerário escuro do programa original, com nomes que você vai reconhecer, mas com dinâmicas de personagens que podem (e vão) surpreendê-lo.
Isso é visto especialmente com as tias de Sabrina, Hilda (Lucy Davis, Mulher-Maravilha) e Zelda (Miranda Otto, Senhor dos Anéis). Esta última, por exemplo, é uma devota fiel da Igreja da Noite que está determinada em fazer sua sobrinha seguir os passos da família e essencialmente vender sua alma a Satanás em troca de poderes mágicos e uma "vida eterna".
Como na série original, Sabrina é uma meia bruxa - com um pai mágico e uma mãe mortal - que a deixa dividida entre duas naturezas. Ela tem um namorado mortal, Harvey, e um grupo de amigos em Greendale. Ela não tem pressa de ser enviada para uma escola mágica para estudar as artes invisíveis e cortar todo o contato com sua vida mortal. Ela, sem dúvidas, gosta das regalias que ser uma bruxa traz e ainda quer agradar a sua família, estabelecendo um conflito compreensível que irá, aparentemente, impulsionar a temporada.
Há muito drama de Ensino Médio logo no primeiro episódio, mas o mundo mágico de Sabrina é muito mais fascinante do que o material mortal. É compreensível que os escritores queiram fundamentar a luta de Sabrina nos apresentando aos amigos que ela ama e não quer deixar para trás, mas o primeiro episódio se arrasta um pouco quando a ação muda para o Baxter High e seus dilemas mais mundanos. As tradições e rituais do mundo mágico de Sabrina são tão intrigantes e claramente bem pensados.
Uma das maiores surpresas da estreia é o personagem de Ambrose Spellman, primo pansexual de Sabrina (e um personagem que não estava no programa original), retratado com facilidade e charme por Chance Perdomo. Ambrose é um prazer sarcástico toda vez que aparece na tela, e há claramente muita história para ser contada sobre ele (não temos ideia do porque ele e Hilda têm sotaques britânicos, enquanto Sabrina e Zelda não, mas estranhamente está tudo bem com isso). E apesar de não ser um fantoche atrevido, a nova iteração de Salem consegue roubar todas as cenas em que ele está.
A série certamente tira proveito da "falta de censura" de uma plataforma de streaming, como a Netflix. Não é excessivamente sangrento, mas há muitas coisas estranhas acontecendo, dando um tom ligeiramente mais adulto e que de maneira eficaz cria uma tensão, o que é um bom presságio para a série como um todo. Até mesmo os créditos de abertura são assustadores, dando o tom enquanto homenageia a versão original do personagem.
'O Mundo Sombrio de Sabrina' chega amanhã (26/10) na Netflix, e eu não vejo a hora de maratonar essa que promete se tornar a nova série queridinha do momento.