Foi lançado no último 04 de maio o livro 'Espírito Perdido', do brasileiro P.J. Maia. Para saber um pouco mais da história do livro, conversamos com o autor por e-mail. Confira o papo:
P.J. Maia: A história de Keana e seus amigos convida os leitores para um mundo anterior ao nosso: extremamente diferente, mas ao mesmo tempo cheio de similaridades. A ideia é que através de paixões adolescentes, mitologia, intrigas palacianas, magia e antropologia, surja uma saga cativante, original e que proponha reflexões sobre o que significa ser humano e o que significa ser mortal.
Como chegou a ideia da pré-história fantástica? Se inspirou em algum filme ou livros?
A pré-história como cenário dessa aventura surgiu de forma natural. Sempre gostei do trabalho do Erich von Däniken, em específico 'Eram Os Deuses Astronautas?'. Ao mesmo tempo, sempre fui fã de fantasia mais clássica e de ler e escrever sobre bruxos e heróis medievais. Quando eu comecei a escrever 'Espírito Perdido', não tinha pretensão de publicar. Era um diário fictício sobre uma alma perdida num lugar estranho. Quando pensei num cenário, eu queria chegar num lugar que fosse estranho para mim também, que eu tivesse vontade de conhecer melhor. Não queria correr o risco de escrever com menos vivência e experiência sobre um mundo que já tivesse sido explorado com maestria por diversos autores. Pensei que se eu entrasse num território mais virgem, poderia arriscar mais. Além disso, o processo de estudar a pré-história e mitos ancestrais foi muito empolgante. O livro é recheado de pequenas pistas e teorias sobre as origens da humanidade justamente porque a nossa bagagem mitológica é muito rica e, na minha opinião, pouco reverenciada.
Como Keana se destaca como protagonista nesta história?
Keana é uma bomba-relógio. O leitor sabe desde que a conhece que há um grande mistério cercando a sua existência e ela também cresce entre os deuses em Divagar com essa sensação. Enquanto todos os seus amigos seguem com serenidade o script que receberam das famílias e já sabem o que esperar da vida, Keana é a única jovem de futuro imprevisível ali. O mistério sobre suas origens abala a fé que ela tem na sociedade em que vive e até na própria família, então ela entende que precisa embarcar numa jornada muito solitária de coragem se quiser descobrir qual o seu papel no mundo.
O livro foi originalmente escrito em inglês. Você acompanhou o processo de tradução do livro para o português? Pensou em traduzir sozinho ou ficou com receio de modificar algo da história?
Eu comecei a traduzir o livro por conta própria, mas o perigo do autor em mexer no próprio texto é que a argila nunca está seca. Fiz várias tentativas de traduzir os primeiros capítulos mas quando comparava as duas versões, via que estava diferente, que haviam coisas a mais e a menos entre os dois idiomas. Foi aí que conheci o Robson Falcheti Peixoto, um tradutor muito talentoso que acabou trazendo a prosa para o português, colaborando com boa parte no invencionismo dos termos fantásticos, sempre com respeito pelo texto original. Nós fizemos reuniões pontuais e eu colaborei da forma que pude, me mostrando acessível para o que ele precisasse mas também respeitando o processo dele, que requer uma certa reclusão mesmo. Ficamos bem contentes com o resultado.
Um livro: 'O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel' (o ‘chamado para a aventura’ de Tolkien é potente como em poucas histórias do gênero)
Um autor: Gary Shteyngart ('Uma História de Amor Real e Supertriste', um romance hiper-criativo, instigante e crítico, com uma prosa fantástica)
Uma história que te levou para um lugar inesperado: 'Americanah', da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Ela fala sobre a experiência do exílio cultural e da identidade imigrante com muita alma e propriedade.
Um gênero literário que gostaria de ler mais: Fantasia urbana. O próximo da minha lista é 'Bruxa Akata', da nigeriana-americana Nnedi Okorafor.
Foto do autor: Lucas Possiede