Na segunda noite da Festa Literária de Santa Maria (FLISM), Leticia Wierzchowski presenteou o público com suas reflexões sobre a literatura, criação de personagens e universos. De uma família de origem polonesa, que não tinha muitos hábitos de leitura, a autora conta que, na infância, os poucos livros que via em casa ficavam na dispensa.
Com o crescimento, o hábito e a independência para a leitura, Leticia tornou-se leitora por conta própria, principalmente após o pai cadastrá-la em uma biblioteca.
Descobri o universo da literatura sozinha, sempre tive muita liberdade na escolha das leituras.
Com referências como Gabriel García Márquez, Érico Veríssimo, Tabajara Ruas e muitos outros, relembra que criava muitas histórias e até pagava para as irmãs brincarem com ela, para poder contá-las. Porém, a primeira criação literária veio aos 22 anos, após largar a faculdade de arquitetura e abrir uma confecção de roupas, onde começou a escrever após o fim do expediente.
A sensação de escrever era de liberdade. Eu só precisava das palavras.
Sobre o processo de escrita, principalmente do primeiro livro, Leticia conta que escrevia "desesperadamente" pois precisava se autoafirmar dentro da família, para mostrar que aquilo era seu real interesse. E assim escreveu seus primeiros romances e começou a busca por editoras.
Autor novato sempre leva muitos nãos. Mas sempre fui em busca de um "sim".
De acordo com a autora, no momento que está criando um livro, ela precisa estar conectada com o universo dos personagens e, principalmente, manter a frequência da escrita. Ainda contou que tem muito prazer em apresentar a mulher como protagonista da maior parte de suas histórias.
Sobre a necessidade de escrever, Leticia conta que escreve muito para ela e nunca para. Disse também, que a literatura trouxe tudo de bom que há em sua vida. Lembrou que um das funções da literatura é subverter e se vingar da realidade, afinal ela pode consertar as narrativas da forma que achar mais interessante.
Se o autor fizer bem o trabalho, o leitor acredita em tudo, muitas vezes mais que a realidade.
Após lançar sua última ficção, "O menino que comeu uma biblioteca", a autora lançou seu primeiro e-book independente na Amazon, o livro de contos "Desaparição". Mas relembra que apesar disso, pretende sempre focar na ficção mais longa. Revelou também que gostaria contar histórias de outras formas, como em uma novela para TV.
Eu conto histórias sobre seres humanos, que podem funcionar e ser lidos por todos, em qualquer lugar.
Apesar de achar difícil, a autora definiu "Travessia" e "O menino que comeu uma biblioteca" como os livros que mais gostou de escrever (até o momento). Mesmo assim, ela não deixou de citar "Uma Ponte Para Terebin", um livro sobre a história de seu avô.
Meu avô foi o primeiro personagem que conheci. O universo da sua casa era fascinante.
Ainda sobre seus livros, durante o papo citou "Prata do Tempo", "O Anjo e o Resto de Nós", "eu@teamo.com.br", "De um Grande Amor e de uma Perdição Maior Ainda" e ainda comentou o título, "Deriva", continuação no universo do livro "Sal", que deve está pronto e deve ser lançado em breve.
Antes de terminar, relembrou um de seus livros favoritos, "Do que eu falo quando falo de corrida", de Haruki Murakami. Ela ressaltou a importância de uma atividade física com o desenvolvimento da criatividade, principalmente para os autores, que passam muito tempo sentados escrevendo e lendo.
Para finalizar, uma de suas frases, comentadas logo no início do papo:
O mundo as vezes acha que não precisa de arte. Inclusive é por isso que muitos governos cortam verbas de cultura logo no início.