Voltar a acompanhar novelas trouxe um sentimento de recomeço, que iniciou lá com 'Malhação: Viva a Diferença', seguindo com 'Espelho da Vida', chegando em 'As Aventuras de Poliana' (que anda enrolada demais), 'Bia', 'Bom Sucesso' e atualmente 'Éramos Seis', 'Salve-se quem Puder' e 'Amor de Mãe'. Obviamente que parar para assistir no horário não é a atividade que mais faço, afinal a correria do dia a dia impede isso, mas as possibilidades por streaming tornam as formas de acompanhar mais animadoras.
Para falar a verdade, a novela sempre foi o nosso produto cultural que sempre influenciou a sociedade, seja socialmente ou financeiramente. Comentei aqui sobre o crescimento nas vendas de livros comentados em 'Bom Sucesso', mas vai muito além disso. Desde o arco de cabelo e receitas de bolo da Maria da Paz que foram sucesso em 2019, os brinquedos de Poliana, os lenços que a personagem Bia amarra em seu cabelo, na produção do Disney Channel ou se você viveu a primeira exibição de 'O Clone', deve lembrar da febre das pulseiras-anel.
O único problema é ver que isso é algo que não é mantido por muito tempo dentro do âmbito cultural e rentável pelas próprias emissoras. Em dezembro, li na coluna do Chico Barney sobre a participação do Globoplay na Comic Con Experience (CCXP) e sua tentativa de convencer que as produções nacionais também são cultura pop. E eu não tenho nenhuma dúvida disso, principalmente as de TV aberta, que ainda impactam um grande público culturalmente.
Porém como suas produtoras fazem para manter suas lembranças vivas para o público? Em um espaço como a CCXP, a gente sabe que a compra de produtos ou distribuição de brindes é parte importante da "experiência", mas para a Globo, no caso, faltou pensar nos seus originais.
Uma das citações da coluna do Chico Barney são produtos de 'Doctor Who', série britânica, da BBC, lançada em 1963. Apesar do grande número de episódios, seus doutores se mantêm vivos em inúmeros formatos e plataformas, como livros, action figures, áudios de episódios perdidos em vídeo, camisetas, DVDs, Blu-rays, video games, exposições e uma gama infinita de produtos.
Por aqui, não vemos isso acontecer com nossas produções. Até pouco tempo, o mínimo que tínhamos era a trilha sonora. As pessoas lembram, pedem reprises e atualmente, até imploram por spin-offs no Twitter (o que acabou funcionando para 'Malhação: Viva a Diferença' com o futuro lançamento de 'As Five' no Globoplay). De alguma fora, isso também reflete nos criadores de conteúdo. Seja no Youtube ou perfis do Instagram, os assuntos crescem cada vez mais e ainda realizam uma grande mistura de conteúdos atuais e antigos das nossas produções nacionais (alguns exemplos: Coisas de TV e Melodramáticos).
Pra ser bem sincero, fico na torcida para ver personagens nacionais que gostamos ou até utilizamos imagens nas redes sociais em outros produtos. Se a lojas de fast fashion conseguem vender inúmeras camisetas com estampas de 'Friends' (que estão ficando quase sem espaço para tantos frames), certamente vai ser um sucesso uma coleção com grandes vilãs e vilões ou até mesmo frases famosas de personagens das novelas e séries brasileiras.
Quem sabe também uma linha de camisas do Agostinho Carrara, o que chamamos do atual cafona chique, ou até a famosa jarra de abacaxi da Nenê de 'A Grande Família'. E não podemos esquecer a oportunidade perdida com os livros originais de 'Bom Sucesso', que pelas premissas apresentadas, tinham boas histórias.
A memória afetiva sempre vai incentivar a compra de uma camiseta, caneca, cadernos ou até mesmo um boneco de algum personagem. Agora resta planejar, ofertar aos revendedores e público, para que a demanda seja criada. Se existir dúvida, sabemos muito bem que pode ser criada uma venda limitada para testes, com pré-venda. Isso vai ajudar a entender o público, preço e locais onde esses produtos podem ser vendidos.